quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Mercado de capitais e tendências em governança

Melhoria das empresas brasileiras de capital aberto estimula as de capital fechado, que, têm que seguir novos padrões de desempenho

IT Web / Carlos Airton

05/02/2008

O ano de 2007 foi marcado por um número recorde de empresas brasileiras que buscaram a abertura de seu capital e realizaram oferta pública de ações ao mercado como estratégia para viabilizar seus planos de crescimento. Esse fato constitui um importante indicador de tendência de evolução da governança corporativa e de TI no Brasil, para os próximos anos.

Até novembro passado, (quando fechávamos a edição deste artigo) a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrava um total de 62 empresas que fizeram o lançamento inicial de suas ações no mercado, os chamados IPOs (do inglês "Initial Public Offering"). Neste número estão incluídos os bem-sucedidos lançamentos de ações da própria Bovespa e da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).

No mesmo período, outras dez empresas já participantes da bolsa realizaram ofertas adicionais de ações ao mercado, totalizando, portanto, 72 empresas que fizeram ofertas de ações. Só para comparar, nos anos anteriores o número de IPOs na Bovespa, foram os seguintes: sete em 2004; nove em 2005 e 26 em 2006. Chama também a atenção o fato de que 66% das empresas que estrearam na Bolsa em 2007 aderiram ao segmento de listagem da Bovespa denominado Novo Mercado, que representa o nível máximo de exigência em termos de práticas de governança corporativa no Brasil. Dessa forma, podemos dizer que nossa Bolsa não tem crescido apenas em volume, mas também em qualidade em termos de práticas de governança.

Vale destacar também que os investidores estrangeiros levaram a maior parte das ações ofertadas pelas empresas brasileiras nos últimos anos: 65% em 2007, 68% em 2006, 70% em 2005 e 69% em 2004. Para muitas empresas brasileiras que estrearam na Bolsa, sobretudo as que possuíam uma cultura de gestão familiar, passar a estar sob os fortes holofotes do mercado de capitais e ainda ter sócios estrangeiros exige um enorme esforço de adaptação.

Principalmente no que diz respeito à prestação de contas sobre o andamento dos negócios e sobre os resultados.

Entretanto, o que muita gente não sabe, é que os sócios estrangeiros das empresas brasileiras não contribuem apenas com a injeção de capital. Estes sócios - em geral fundos de investimento que aplicam recursos em diferentes mercados do planeta - trazem também importantes contribuições para a melhoria do desempenho das empresas nas quais investem. É comum que, em suas visitas ao Brasil para tomar contato com a evolução dos negócios, tragam informações sobre experiências bem-sucedidas de empresas similares em outros países, que podem ser adotadas também aqui. É bastante comum ainda, trazerem dados sobre sistemas e tecnologias utilizados por empresas estrangeiras, abrindo portas, inclusive, para visitas e trocas de experiências. Cria-se assim, um estímulo para que as empresas brasileiras se aproximem das melhores práticas internacionais em termos de governança e até do uso da tecnologia, melhorando seu desempenho e resultados.

É bem verdade que empresas brasileiras com capital na Bolsa e com sócios estrangeiros sofrem, em geral, uma grande pressão por resultados. Como conseqüência sentem-se obrigadas a aprimorar seus processos de planejamento e a sua capacidade de execução. A contribuição da TI, nesse sentido, é fundamental. Como cresce a importância da área de tecnologia da informação, aumenta também a necessidade de que ela seja bem administrada, de forma a assegurar que vá criar valor para os negócios.

Assim, ganha destaque a organização de TI e processos como planejamento estratégico, gestão de portfólio, gestão de projetos e também a gestão de serviços básicos de TI, como suporte a infra-estrutura e suporte aos usuários. Decisões sobre investimentos importantes em TI, como qualquer outro investimento na empresa, passam a exigir justificativas fundamentadas em estudos financeiros mais elaborados e à necessidade de aprimoramento das metodologias de análise financeira de projetos.

Essa necessidade de maior "profissionalização" da TI tem levado muitos profissionais de volta à escola, em busca de novos conhecimentos. Cursos de pós-graduação e MBA em governança de TI não eram imagináveis anos atrás. Hoje, já existem várias escolas oferecendo bons cursos com esse conteúdo, suprindo deficiências dos cursos de graduação que, em geral, tem enfoque mais técnico. A busca por certificações profissionais oferecidas por entidades como PMI, ITSMF e IT Governance Institute deverá continuar crescendo, por exigência do próprio mercado. Também, os frameworks de melhores práticas de governança de TI como Cobit, Itil, PMBoK, CMMI, etc. deverão seguir seu processo de evolução e de busca de convergência.

As evoluções dos profissionais de TI e das práticas de governança contribuirão cada vez mais para o tão propalado objetivo de integrar TI aos negócios. Finalmente, podemos dizer que a melhoria do desempenho das empresas brasileiras de capital aberto acaba por estimular o melhor desempenho das brasileiras de capital fechado, que, para se manterem competitivas, têm que buscar seguir os novos padrões de desempenho vigentes no mercado. A abertura de capital das empresas e a crescente participação de investidores estrangeiros no País, contribuem para um maior dinamismo do mercado e para uma oxigenação das práticas de governança corporativa e de TI das empresas brasileiras, inserindo-as definitivamente no contexto da economia global.

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