Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados / Luciano Feltrin
13/02/2008
O mercado de renda fixa do País terá uma grande chance para deslanchar neste ano. Essa é a expectativa de um dos diretores da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Sérgio Weguelin. Na avaliação do executivo, as empresas devem aproveitar as turbulências - que dificultam colocações no mercado acionário - para fortalecer as emissões desses papéis. "Temos todos os instrumentos para desenvolver um mercado local de renda fixa. É impressionante que ainda não o tenhamos feito", afirmou Weguelin. "Atualmente, renda fixa resume-se à colocação de debêntures de empresas de leasing e de operações de empréstimos sindicalizados", exemplificou o executivo, durante evento que marcou o anúncio da agenda anual do Best (Brazil Excellence in Securities Transactions).
Liquidez e atratividade
De acordo com o diretor da autarquia, só o desenvolvimento de um mercado doméstico de renda fixa trará liquidez e atratividade aos papéis. "Tenho a impressão, de diálogos recentes com o mercado, que instrumentos de securitização e de derivativos imobiliários podem ter espaço importante. Um mercado local forte dará às empresas a oportunidade de captação no próprio País. No exterior, as empresas encontram dificuldade - refletida em custo maior - porque os papéis não têm referencial interno. Os estrangeiros acabam utilizando como índice as operações do Tesouro", afirma.
De acordo com Weguelin, nos EUA, por exemplo, o mercado de renda fixa é composto por 80% de risco privado. "Nos Estados Unidos, os fundos de pensão adquirem papéis de renda fixa para compor suas carteiras de investimentos. Seria muito positivo se grandes empresas brasileiras, como uma Gerdau, começassem a emitir renda fixa", exemplificou.
Fundamentos
O eventual interesse de investidores estrangeiros por títulos lastreados em renda fixa do País não está unicamente ligado às taxas de juros. Essa é a avaliação do diretor de política monetária do BC (Banco Central), Mario Torós. "O perfil da dívida pública brasileira melhorou em prazo de rolagem e em relação aos indexadores. Mais de 60% dessa dívida é prefixada ou indexada à inflação. Isso não diminuiu a participação estrangeira na dívida, que cresceu de 0,6% para aproximadamente 2% do montante total", afirmou.
De acordo com Torós, o maior interesse deve ser atribuído à percepção da melhora consistente dos fundamentos macroeconômicos do País.
Diversificação
Uma das intenções dos principais organizadores do Best para esta temporada é diversificar mais a participação de investidores estrangeiros no Brasil. Os principais alvos serão europeus e asiáticos. "Atualmente, cerca de 50% do volume negociado em Bolsa é de norte-americanos. Há, portanto, grande espaço para crescer nestes outros continentes", afirmou o vice-presidente da Anbid, Pedro Guerra.
"Os eventos na Ásia têm uma característica diferente em relação a outras praças. Palestras e seminários com prazo de duração mais curto são mais bem-vindos pelo investidor local", comparou Guerra. Para Weguelin, da CVM, investidores asiáticos demonstram interesse acentuado pelo mercado de capitais brasileiro. "O nível de qualificação e conhecimento deles em relação ao País melhorou muito. No ano passado, Cingapura e Hong Kong foram grandes surpresas nesse sentido", lembra o executivo.