segunda-feira, 2 de junho de 2008

Primeiro mundo agora depende dos emergentes, diz jornal

BBC Brasil
02/06/2008
O crescimento econômico dos emergentes causou uma inversão no mundo, tornando os países desenvolvidos dependentes dos emergentes, sugere um artigo publicado na edição desta segunda-feira do jornal Herald Tribune.
Assinado pelo colunista e editor do jornal, Roger Cohen, o artigo "O mundo está de cabeça para baixo", afirma que, para entender essa "inversão", é necessário lembrar que, no ano passado, os países emergentes foram responsáveis por dois terços do crescimento econômico global.
Segundo o jornal, uma das razões para essa mudança seria a alta nos preços de energia, commodities, metais e minerais, produzidos em sua maioria nos emergentes.
"Nós, espécies paleolíticas do mundo desenvolvido, somos presa fácil para os gigantes, nosso papel de predador se exauriu. Talvez em breve os Estados Unidos e a Europa precisem de toda a caridade que conseguirem ter", diz o artigo.
BrasilDe acordo com o Herald Tribune, para colocar essa inversão em foco, ajuda "estar no Brasil, onde o inverno chega com ao verão do hemisfério Norte, e o otimismo na economia , exuberante como sua vegetação, aumenta à mesma medida das retomadas de posse nos Estados Unidos".
"Descobertas de óleos, o boom do etanol da cana-de-açúcar, vastas reservas de terra, riqueza mineral e água fresca abundante contribuem para a vivacidade brasileira", diz o jornal.
Apesar de ressaltar os recursos naturais, o artigo afirma que a expansão no mercado interno está reforçando o crescimento. Para exemplificar esse cenário, o jornal destaca as estatísticas apresentadas pelos executivos da Petrobrás e da Vale no Fórum Nacional anual.
O artigo cita o anúncio de que a Petrobrás irá duplicar a produção de petróleo para 4,2 milhões de barris diários em 2015, comparados com os atuais 1,9 milhões.
Além disso, o jornal ressalta também as recentes aquisições da Vale, como a compra da canadense Inco e os investimentos da empresa direcionados ao mercado asiático.
"Em um mundo invertido, não só as economias em desenvolvimento tornaram-se forças dominantes nas exportações globais, no espaço de uns poucos anos, mas suas empresas estão se tornando jogadores importantes na economia global, desafiando os poderosos que dominam o cenário internacional desde o século 20", disse o economista e consultor brasileiro Cláudio Frischtak ao Herald Tribune.
MudançasDe acordo com o jornal, os países desenvolvidos ainda não perceberam as implicações das mudanças que estão acontecendo nessa inversão de poderes econômicos. "O século 21 não poderá ser conduzido com instituições do século 20", destaca o diário.
O artigo questiona ainda como os Estados Unidos irão lidar com essa polarização de poderes e como o novo presidente irá enxergar essa inversão.
"Menos óbvio é saber como os Estados Unidos, que garantem a segurança global a um grande custo, começarão a dividir esse ônus, para que a polaridade de riquezas seja refletida em uma polaridade de compromissos com a segurança", diz o texto.

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