Senado Federal
03/08/2008
Nem mesmo dez dias de reuniões serviram para que os 151 países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) salvassem a Rodada Doha, negociações para um acordo comercial global iniciadas após os ataques de 11 de setembro de 2001, na esperança de impulsionar a economia mundial e produzir regras mais liberais para o comércio.
O acordo acabou não aceito, em especial pela Índia, segundo maior mercado consumidor potencial do mundo (atrás da China), com 1,1 bilhão de pessoas.
Nações desenvolvidas e emergentes ficaram, mais uma vez, em campos opostos nas discussões sobre subsídios agrícolas e o acesso aos novos mercados dos produtos industriais. Intransigente na busca de um mecanismo de salvaguarda que protegesse o seu mercado de uma "invasão de importações", a Índia foi decisiva para o fracasso da reunião.
O resultado adverso frustrou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que alertou para conseqüências negativas para a economia brasileira. A mais grave, conforme o chanceler, pode ser o aumento dos subsídios agrícolas americanos nos próximos anos, já que novas regras sobre a questão não foram acertadas. "Coloquei o máximo esforço nisso", declarou, descartando as críticas de que o Brasil teria apostado demais na Rodada Doha, em vez de optar, como outros países, por acordos bilaterais como forma de derrubar barreiras e abrir mercados para as exportações.
– Os americanos deixaram claro que não reduziriam os subsídios se não tivessem um acesso maior aos mercados. Já os europeus indicaram ao Mercosul que não poderiam negociar um acordo entre as regiões sem saber o que ocorreria na OMC. Não era uma questão de querer privilegiar a OMC. Essa era a realidade – afirmou Amorim.
Até o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, admitiu que os paí¬ses emergentes vão sentir mais o fracasso.
Senadores governistas e da oposição lamentaram o resultado do encontro da OMC. Delcidio Amaral (PT-MS) elogiou a postura assumida pela delegação brasileira durante as reuniões.
– A posição da nossa equipe foi a mais vantajosa possível em termos comerciais. Mas bate de frente com práticas já adotadas por outros países, que teimam em não entender que essas posições vão ser, no final, positivas para todo mundo, em especial para os países mais pobres.
Ele atribuiu a "dificuldades de caráter político" a falta de um acordo, citando como exemplo o ambiente eleitoral nos EUA.
– O Brasil fez o possível, tentou de todas as formas colaborar na busca de uma solução. Você muitas vezes não consegue um acordo, mas o trabalho não é inteiramente jogado fora. O Brasil se cacifa cada vez mais na diplomacia mundial como um país que precisa ser ouvido e que defende teses fundamentais para o futuro do planeta, e não apenas de todos nós, sul-americanos.
Para o senador Gilberto Goellner (DEM-MT), as discussões poderão ser retomadas, mas não antes da posse do novo presidente norte-americano.
– A posição do Brasil foi coerente, justa, forte e refletiu os interesses dos setores agrícolas e de manufaturados. Enquanto o Brasil se preocupou, sendo um grande exportador, em liberalizar mercados dos dois principais consumidores mundiais, Índia e China insistiram em criar barreiras e cotas, em função da crescente demanda dos produtos oriundos do Brasil (soja, carne, açúcar e também o etanol).
Mas Goellner, empresário rural do setor de algodão, acredita que a falta de acordo não vá prejudicar as exportações. "No máximo, vai deixar na mesma", previu.
– Não se alcançaram os objetivos de promover as importações e reduzir as tarifas cobradas nesses países (nos EUA, o caso específico do etanol). Ninguém quer abrir. Índia e China sabem da sua importância como consumidores de produtos agrícolas do Brasil e dos EUA. Não quiseram reduzir tarifas e o Brasil foi firme e não se resignou – completou.
Goellner lembrou que, na proposta feita pelos EUA na reunião, os subsídios para o algodão seriam reduzidos de US$ 5 bilhões para US$ 400 milhões.
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Impasse pode custar caro a comércio externo nacional
Publicado por Agência de Notícias às 4.8.08
Marcadores: Economia, Exportação
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