quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Tese de "descolamento" do Brasil da crise foi destruída, diz FT

BBC Brasil
30/10/2008
A noção de que o mercado de capitais do Brasil está "descolado" do resto do mundo foi destruída nos últimos meses, segundo reportagem publicada nesta quarta-feira pelo jornal britânico Financial Times.
O real se desvalorizou frente ao dólar e o índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu para menos de 30 mil pontos na segunda-feira pela primeira vez em três anos, o que o tornou um dos cinco mercados mundiais com pior desempenho nos últimos seis meses, diz o jornal.
Analistas citados pelo FT associam a situação à influência de fatores externos e locais, como a queda no preço das commodities, fatores que parecem disfarçar, segundo o jornal, a crença de que o Brasil "está muito melhor posicionado para resistir a turbulências globais do que há uma década, quando chegou à beira do calote depois que as crises russa e asiática provocaram ataques contra sua moeda."
O jornal explica uma série de mudanças positivas ocorridas "desde então", dizendo que "o governo agora é credor líquido do resto do mundo" e que "a recente desvalorização do real, na verdade, reduz o peso da dívida soberana, em vez de elevá-la, como no passado".
Além disso, afirma o diário, "o Brasil tem cerca de US$ 200 bilhões em reservas de moeda estrangeira para se defender de ataques especulativos".
"Mas as reformas que produziram essa resistência maior incluíram uma reforma nos mercados de capital do Brasil que os deixou muito mais integrados com o resto do mundo do que antes."
O FT lembra que entre os anos de 2004 e 2006, cerca de 70% do dinheiro investido veio de fora do País, e com o desenrolar da crise, esses investidores "correram para retirar seu dinheiro".
"Desde junho, investidores estrangeiros já retiraram cerca de US$ 23,5 bilhões da Bolsa de São Paulo."
Mas para o FT, o governo agiu rápido para aliviar o medo causado pela queda no preço das commodities, a desaceleração do crescimento no Brasil e em todo o mundo no ano que vem, e o temor de que centenas de empresas brasileiras sofram prejuízos por ter apostado erroneamente no câmbio.
O jornal cita a liberação de crédito para empresas, o leilão de dólares e a compra de ações de bancos particulares por bancos estatais por parte do governo, como medidas para aliviar os efeitos da crise.
"Mas o sentimento dos investidores está, em última instância, a mercê de fatores que vão além do controle do governo", conclui a reportagem.

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