quinta-feira, 27 de novembro de 2008

América Latina pede mais flexibilidade de FMI e BM em linhas de crédito

EFE / Elena Moreno
27/11/2008
Vários países latino-americanos pediram hoje a instituições financeiras internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM) uma maior flexibilização nas linhas de crédito para enfrentar uma crise que já bate às suas portas e que repercute nas economias dessas nações.
O Programa da ONU para o Desenvolvimento (Pnud) e a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aeci) organizaram hoje o 2º Fórum do Pensamento Social Estratégico na América Latina, no qual foram analisadas as formas como a região pode enfrentar a crise financeira que teve início nos países ricos.
"As condições de crédito nos países ricos se endureceram e isso afetará o fluxo de financiamento em direção às economias da região", disse hoje o ministro das Finanças da Costa Rica, Guillermo Zúñiga, que pediu maior flexibilidade às instituições financeiras diante da eventualidade de que os países pudessem precisar de liquidez.
Nessa mesma linha expressaram-se outros ministros da região e a diretora-regional para América Latina e Caribe do Pnud, Rebeca Grynspan, que ressaltou "a necessidade de que essas linhas de crédito que possam dar liquidez às economias estejam disponíveis de forma rápida e não condicionada".
Para ajudar as nações a superar a crise a curto prazo, o FMI disponibilizou, no final de outubro, um fundo de US$ 100 bilhões para conceder empréstimos de emergência sem condições estipuladas a países com boas políticas econômicas, mas com problemas de liquidez.
Em entrevista coletiva, Grynspan disse que, embora nos últimos anos o crescimento na "América Latina tenha sido dinâmico e ininterrupto, sem dúvida dos melhores desde a crise da dívida (nos anos 1980), isso não se repetirá em um período próximo porque a crise já começou".
"A América Latina, sem dúvida alguma, não é imune a esta crise", afirmou a diretora-regional do Pnud, que se referiu à necessidade de que os países possam combinar a tempo políticas fiscais anticíclicas e ter acesso à liquidez para enfrentar a situação.
Para o titular de Finanças da Costa Rica, a "situação é muito complexa neste momento, pois embora a América Latina viesse se desenvolvendo de forma consistente e com taxas de crescimento aceitáveis, os problemas do mundo rico nos mandam a conta".
Zúñiga se referiu assim às previsões de redução das exportações às nações desenvolvidas, assim como a uma queda dos investimentos estrangeiros, do turismo ou das remessas de dinheiro dos imigrantes, entre outros, que afetarão o mundo em desenvolvimento.
Por sua vez, a ministra coordenadora de Desenvolvimento Social do Equador, Natalie Cely, destacou a necessidade de que "haja mecanismos regionais próprios para responder à crise" dentro da América Latina.
"A crise está afetando Honduras há dez meses", ressaltou a ministra de Finanças hondurenha, Rebeca Santos, que acrescentou que o país perdeu nesse período três pontos percentuais de um crescimento econômico que se situou em 6% do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos três anos.
Os países emergentes não querem "que uma crise não gerada no mundo em desenvolvimento venha enfraquecer nossos objetivos de redução da pobreza e dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio" (ODM) da ONU, afirmou.
Santos disse que a crise chegou às nações latino-americanas "a uma velocidade acelerada, mas a resposta à mesma não está chegando com a mesma velocidade", e insistiu em que as respostas "não podem ser dadas com receitas do passado, obsoletas, em um mundo globalizado".
Por sua parte, a primeira-dama da Guatemala e presidente do Conselho de Coesão Social guatemalteco, Sandra Torres de Colom, assegurou que as autoridades do país "apostam na integração econômica na América Central" para melhorar as oportunidades como um bloco.
Outro que esteve presente no fórum foi o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, que ressaltou que, embora a "América Latina esteja em melhor posição do que há cinco ou dez anos", os Governos da região precisam "ter cautela e não ser otimistas demais".
Stiglitz afirmou que esses países "agora têm boas instituições, mas é preciso ter cautela com o que isso quer dizer. Há dez anos dizia-se que nos Estados Unidos havia boas instituições reguladoras, boas políticas macroeconômicas, e vejam o que aconteceu", lembrou.

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