sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

RI assume missão de reter investidores

Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados / Maria Luíza Filgueiras
16/01/2009
As equipes de relações com investidores (RI) das companhias de capital aberto têm vivido uma verdadeira prova de fogo. Crise de derivativos, retração e encarecimento de crédito como reflexo do cenário internacional e virada repentina do câmbio multiplicaram o número de ligações, e-mails e road shows com investidores. Se o apetite por renda variável já tinha se reduzido, a missão (inglória) do RI passou a ser a retenção dos remanescentes e até mesmo reforço na obtenção de crédito.
"Um cenário mais conturbado sempre traz desafio, e os times de RI tiveram de repensar suas atividades. É diferente de atuar num mar de rosas, o trabalho se intensifica para não haver sentimento de pânico e efeito manada", diz Andrea Pereira, diretora de RI do grupo EBX, do empresário Eike Batista. Administradora de empresas como OGX e LLX, o grupo intensificou a rotina de visitas a acionistas e analistas. "Tanto do sell quanto do buy side, buscamos dar o máximo de entendimento sobre a situação das companhias."
Já em meio ao furacão que atravessava Wall Street, José Roberto Pacheco, diretor de relações com investidores e controladoria da Odontoprev, efetivou uma rodada de 50 reuniões no segundo semestre de 2008, em quatro países, com gestores, bancos e fundos. "Na crise a atividade do RI fica ainda mais importante. Não é culpa do departamento se o investidor sair da empresa, já que muitos precisam desfazer posição, mas faz parte do trabalho reter acionistas, assim como buscar novos e manter contato com os antigos", diz Ricardo Garcia, presidente da comissão de novos associados do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri).
Para o executivo, faz parte da rotina acompanhar os movimentos diários dos papéis, com entradas e saídas e tendências especulativas, mas algumas ações são questionáveis. Segundo Garcia, alguns RIs têm como prática ligar para o investidor que reduz posição. "É antagônico. Alguns se sentem prestigiados, mas outros coagidos."
Esses contatos com o mercado não foram somente intensificados, mas também tiveram mudança de viés. "O discurso mudou muito. Ficou mais corriqueiro focar no preparo da companhia para passar pela crise, qual a estratégia adotada, enquanto o foco anterior era na capacidade de crescimento da empresa", afirma Tharso Bossolani, gerente de RI da Dasa.
A companhia tem empréstimos em dólar e chegou perto de entrar na barca furada dos derivativos, mas na última hora acabou não fechando contrato. "De forma geral, tivemos que aumentar o nível de informação sobre despesas financeiras nos relatórios, até pela variação cambial, ao que antes dedicávamos apenas um comentário. Até a fórmula de cálculo para pagamento de empréstimos incluímos no último demonstrativo", diz o gerente.

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