Entrada mais acentuada de capital estrangeiro deve fortalecer movimento de valorização das ações
O Estado de São Paulo / Tom Morooka
06/06/2008
O mercado de investimentos assiste a eventos que influenciam as decisões do aplicador, tanto na renda variável quanto na fixa. O mercado de ações, que respondeu positivamente nos últimos anos às mudanças econômicas, tende a continuar reagindo à concessão do selo de garantia de investimento ao País por agências de classificação de risco. Duas melhoras de nota já vieram, a da Standard & Poor?s e da Fitch. A expectativa agora é com a possível decisão de outra agência bastante conceituada, a Moody?s (ler reportagem na página 2).
A inclusão do Brasil no restrito grupo de países considerados seguros para o capital gera confiança para investimento em um país anteriormente considerado especulativo e com risco de calote. Mudanças significativas ocorreram, por exemplo, desde a moratória da dívida externa, declarada em 1987. Embora ainda reste muito a fazer, o País conseguiu estabilizar a economia e controlar a inflação, dar maior racionalidade à política fiscal para a geração de superávits e, principalmente, acumular reservas cambiais que se aproximam de US$ 200 bilhões. Foi esse nível de reservas que, segundo economistas, manteve a economia doméstica longe da turbulência provocada pela crise de hipotecas de alto risco nos EUA.
A expectativa é que a nova imagem do País perante o mundo, principalmente se reforçada pela Moody?s, atraia mais capitais para o mercado de ações, fortalecido também pela fusão da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) com a Bolsa Mercantil & Futuros (BM&F). O mercado não arrisca previsões sobre o volume nem o ritmo de ingresso de capital estrangeiro para a compra de ações, mas a expectativa é que o aumento de fluxo externo leve a novas valorizações da Bolsa.
O cenário positivo do mercado de ações favorece também os fundos multimercados, que sofreram desde o fim do ano passado com o aumento da volatilidade na Bolsa, diz o analista de investimentos Eduardo Santalúcia. Segundo ele, o produto é interessante para pequenos volumes de recursos que não serão usados no curto prazo.
"Existe uma expectativa muito grande com a Moody?s, cuja decisão de reavaliar a nota do País, se sair, poderá levar a uma arrancada da Bolsa", comenta Wlademir Bidoy, superintendente-executivo da Bradesco DTVM. Bidoy diz que, ainda assim, é preciso ficar atento aos desdobramentos da crise de hipotecas de alto risco nos EUA. Uma eventual retomada de incertezas sobre os efeitos dessa crise na economia mundial pode alimentar forte volatilidade e vendas de ações, avalia.
Se o País está cada vez mais bem visto no cenário externo, internamente um mal que se considerava sob controle volta à cena e passa a preocupar governo e investidores. Pressionada pela alta de preços de alimentos, commodities agrícolas e petróleo, principalmente, a inflação avança forte no atacado e ganha força também no varejo (ver reportagem na pág. 4). A aceleração da inflação está levando ao aperto da política monetária num momento que o aumento do fluxo de investimento externo estimulado pelo grau de investimento poderia dar mais folga à política monetária, com a administração de juros mais baixo, diz Santalúcia.
O avanço da inflação e, em sua esteira, dos juros, por decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), exige uma reavaliação dos investimentos, mas nem sempre a migração de recursos para outra aplicação.
Segundo analistas, o investidor deve avaliar o peso da tributação, que pode anular a vantagem acenada por outra aplicação, antes de decidir pela migração. Ao resgatar o dinheiro, o investidor é tributado por alíquotas que são tanto mais elevadas quanto menor o tempo de permanência do dinheiro na aplicação. Em geral, a procura por opções mais rentáveis na renda fixa é indicada só para o dinheiro ainda não aplicado.
Para uma ala de especialistas, em cenários como o do momento, o investidor deve preocupar-se mais em proteger o capital contra o avanço da inflação, em vez de procurar opções mais rentáveis. Um dos produtos indicados são os fundos DI, cuja remuneração acompanha a elevação dos juros correntes. "Hoje, o fundo DI oferece mais proteção para o dinheiro novo que o fundo de renda fixa", avalia Santalúcia. "Mas quem já está com o dinheiro aplicado num fundo de renda fixa não deve sair", recomenda.
BALANÇO
Apesar dos percalços, provocados sobretudo pelas incertezas com os desdobramentos da crise no mercado de hipotecas nos EUA nos primeiros meses do ano, a Bovespa ostenta a melhor rentabilidade no mercado de investimentos neste ano. O Índice Bovespa (Ibovespa), principal índice do mercado acionário paulista, acumulou valorização de 13,63% nos cinco primeiros meses.
Entre os principais investimentos financeiros, a aplicação em ações é a única que proporciona rendimento acima da inflação de 4,74% acumulada pelo IGP-M no período (ver tabela acima).
Deu alento ao mercado de ações, diz Eduardo Santalúcia, a reavaliação de nota dos títulos da dívida externa brasileiros com a concessão do grau de investimento pelas agências de classificação de risco.
Os investimentos no mercado de renda fixa foram atropelados até o momento pela aceleração da inflação. Dos fundos de renda fixa aos fundos DI, passando pelos CDBs, todos apuram rendimento inferior à variação do IGP-M, que reflete principalmente a evolução de preços no atacado.
Mas até o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que espelha a variação de preços no varejo e mais sensível ao aperto na política monetária, acumula no ano, até abril, uma variação de 2,08%. Esse número é pouco menos da metade da meta de inflação de 4,5% definida para 2008 pela política de metas de inflação do Banco Central.
sexta-feira, 6 de junho de 2008
Bolsa ganha força com grau de investimento
Publicado por Agência de Notícias às 6.6.08
Marcadores: Governança
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