O escritor e jornalista Chris Anderson esteve no País e falou sobre a influência da tecnologia nos serviços gratuitos
O Estado de São Paulo / Filipe Serrano
09/06/2008
Desperdiçar. Desperdiçar. Desperdiçar. Esse é o lema que o físico, escritor e editor executivo da revista Wired Chris Anderson tem defendido como uma ótima oportunidade para expandir os negócios na internet. Anderson esteve no Brasil na semana passada e realizou uma palestra patrocinada pela Telefônica que o Link acompanhou.
A idéia tem uma base bastante comum na lógica capitalista. Ao oferecer um produto ou serviço gratuitamente, é possível criar novas demandas que supririam os custos. Um dos exemplos que Anderson cita são as operadoras de celular que oferecem telefones de graça e cobram pelos planos de ligações. Mas há outros infinitos, como bares que diminuem o preço da cerveja e cobram mais pela porção de fritas.
A tendência que Chris Anderson identificou é que, na web, os custos de armazenamento de dados e de banda têm caído de tal forma que tendem a zerar. Os serviços online podem atingir uma enorme quantidade de pessoas com um custo por usuário (ou custo marginal) praticamente nulo. Com isso, os serviços conseguem virar totalmente gratuitos. Seria alguma coisa como se o bar vendesse cerveja e comida de graça, mas colocasse painéis publicitários em todo o ambiente e cobrasse por isso.
Chris Anderson apelidou a tendência de 'Freeconomics' ou, na tradução livre, 'economia do 'grátis'' em um artigo publicado na Wired fevereiro. A idéia também vai virar um livro, que até agora tem o título de Free. E, detalhe, quando for lançado, também será gratuito em suas versões digitais (em PDF e em áudio) na internet.
'A maior parte dos exemplos de oportunidades de negócios que falo são da indústria musical na qual o 'grátis' esbarra nos direitos de propriedade intelectual. Mas também falo de conteúdo em geral, como filmes, livros, etc. Enfim, qualquer coisa que tenha um custo marginal baixo. Se você tirar os custos de direitos autorais, muitos produtos se tornam gratuitos ou muito baratos', afirmou ao Link.
Músicos, a exemplo do Radiohead, colocam seus álbuns para download e cobram pelos shows. Estúdios disponibilizam de graça seus catálogos de filmes em um site e cobram publicidade na página ou, quem sabe, até durante a exibição do filme. Games gratuitos têm versões pagas com fases, armas, inimigos e desafios extras. Essas são algumas oportunidades criadas pela tal 'economia do 'grátis''.
Apesar de tratar de direitos autorais, Anderson jura que sua teoria não tem nada a ver com movimentos que defendem a cultura livre, como, por exemplo, o Creative Commons, organização que oferece licenças de direitos autorais flexíveis para a distribuição de conteúdo gratuita e legalmente. 'Fora do meu trabalho, tudo o que eu faço (por prazer) é no estilo Creative Commons. É o 'free' com significado de 'livre'. Mas meu livro não é sobre isso. É sobre o 'free' como 'grátis' e a influência na economia', afirma.
Quando há abundância de recursos a ponto de tornar o custo de produção o quase inexistente, é possível expandir as oportunidades de negócios. É isso que faz do Brasil, segundo Anderson, um dos países de vanguarda no 'economia do gratuito'. 'Imagine que transformar água salgada em água fresca não tivesse custo nos Estados Unidos. O impulso para a agricultura seria enorme. A luz solar, o gás carbônico e agora a água seriam gratuitos. Só haveria gasto com fertilizante e com os trabalhadores, o que significa que poderia se plantar muito mais. Você poderia ter biocombustíveis e os Estados Unidos seriam muito mais parecidos com o Brasil, que ainda tem uma área de terra produtiva enorme. Não seríamos tão dependentes de combustíveis fósseis', exemplificou Anderson durante a palestra.
Outro exemplo citado pelo jornalista são, acredite, os remédios genéricos. 'O Brasil, como a China, se tornou um dos pioneiros da economia gratuita. Os brasileiros aderiram aos softwares de código aberto, aderiram aos remédios genéricos, aderiram, de certa forma, à pirataria. Tudo isso levou vocês a terem um custo muito menor desses produtos', disse ao Link.
Por pirataria, Anderson refere-se às bancas de camelôs que vendem CDs e filmes a preços muito menores, fazendo inclusive que alguns artistas disponilibilizem seus produtos gratuitamente para os pontos de venda. Em seu artigo publicado em fevereiro, Anderson chega a citar o estilo musical tecnobrega, que tem como principal representante, a banda Calypso, que também é referido no documentário dinamarquês Good Copy, Bad Copy.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Brasil é exemplo da economia 'gratuita'
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