segunda-feira, 14 de julho de 2008

Indústria aumenta dependência do BNDES

Agência Estado
14/07/2008
O investimento produtivo brasileiro aumentou substancialmente sua dependência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a partir do ano passado. Principal instrumento de fomento da economia, o banco já optou este ano pela restrição de crédito a áreas consideradas não prioritárias para garantir o financiamento ao aumento de capacidade de produção da economia. "Nosso objetivo é ter certeza de que o desembolso do BNDES está privilegiando nova capacidade de oferta industrial e novas infra-estruturas. De tal maneira que de fato estejamos cada vez mais contribuindo para a formação de capital fixo na economia", afirmou ao Estado Luciano Coutinho, presidente do banco.
A participação do banco na formação de capital - traduzida, grosso modo, como a participação nos investimentos das empresas - que, historicamente, se situava entre 6% e 6,8%, saltou no ano passado para 8,3% do total. No primeiro semestre ficou perto de 10%, e deve fechar o ano pouco acima disso.
À primeira vista, a impressão é de que o BNDES está aumentando sua importância como opção de financiamento ao capital, em detrimento de outras fontes de recursos no mercado financeiro. Coutinho, no entanto, sustenta que não. Embora isso esteja ocorrendo num momento de nervosismo no mercado financeiro global, ele acredita que é o ciclo pesado de investimentos de longo prazo - mais difícil de atrair financiamento privado por causa da demora na maturação - que vem provocando essa mudança.
Principal agente na nova política industrial do governo, o banco anunciou, em 12 de maio, no lançamento oficial do programa, a redução dos spreads (as taxas de risco cobradas em empréstimos), o alongamento dos prazos e a diminuição de custos, especialmente nos projetos do Finame (programa que financia a produção de máquinas e equipamentos industriais). O programa anunciado pelo governo federal prevê financiamentos de R$ 210 bilhões entre 2008 e 2010.
O BNDES já anunciou que sua liberação de recursos este ano deve chegar a R$ 84 bilhões. Se a projeção se concretizar, isso irá representar uma elevação de quase 30% em relação ao já recorde saldo registrado no ano passado, de R$ 64,9 bilhões.
A carga, porém, é maior do que o banco pode suportar hoje. Para fazer funding e honrar os financiamentos, o banco irá aumentar o giro de sua carteira de ações - o saldo de compra e venda de títulos na BNDESPar, o braço de participações em empresas do banco, deve ficar este ano em R$ 17 bilhões - e adotou, a partir do dia 1º deste mês, novos critérios de concessão de crédito. Operações que eram baseadas 100% na Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), usada como referência nos empréstimos do banco, vão ter essa participação diminuída para até 70% do valor total do empréstimo, em alguns casos. Os outros até 30% da forma de remuneração vão depender do perfil da empresa tomadora.
Para Coutinho, o uso da TJLP (desde julho do ano passado estacionada em 6,25%, independente do movimento dos juros básicos, a Selic) como referência nos financiamentos do banco tem de continuar.
Em 2007, pelas estatísticas do próprio BNDES, o investimento alavancado pelo banco, ou seja, que reúne sua participação em financiamentos e contrapartida de recursos das empresas, foi de 12,9%. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Economia e Estatística, o saldo da economia no ano passado mostrou que o incremente dos investimentos (medido pela rubrica de Formação Bruta do Capital Fixo - FBCF) foi de 13,4%.

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