segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Fiesp consegue mais tempo para articular mudanças na reforma tributária

Diante de uma reforma tributária capenga, os industriais, liderados por Paulo Skaf, preparam um projeto mais consistente

Isto É Dinheiro / Hugo Cilo e Gustavo Gantois
01/12/2008
Na tarde de quarta-feira 19, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, se mostrava eufórico com a proposta de reforma tributária que acabara de ser entregue à Câmara dos Deputados, em Brasília. Era um indício de que a sonhada redução da carga de impostos no País finalmente sairia do papel. No dia seguinte, o otimismo deu lugar a um sentimento de revolta. Por baixo do pano, nove itens que podem aumentar a mordida dos impostos foram camuflados no projeto inicial. A reação foi imediata. "Em hipótese alguma aceitaremos aumento da carga tributária", rugiu Skaf, em sua sala na avenida Paulista. "A reforma é bem-vinda apenas se for para melhorar." Em seguida, ele convocou uma reunião com a cúpula da entidade para esmiuçar o documento apresentado ao Legislativo federal e elaborar uma lista de pontos discordantes. Em poucas horas, o contra-ataque estava pronto. Resultado: a votação foi postergada para o ano que vem e a Fiesp ganhou tempo para articular as mudanças no texto da reforma.
O projeto de reforma tributária, em discussão há cerca de quatro meses no Congresso Nacional, chegou a ser aprovado na Comissão Especial na quinta-feira 20. Na teoria, ele seguiria direto para o plenário, onde precisaria ser aprovado em dois turnos para depois seguir para o Senado. Mas o excesso de medidas provisórias travou a pauta das Casas mais do que esperava o governo. Com isso, não há tempo hábil para que o projeto seja aprovado ainda neste ano. Para complicar, a oposição fechou questão em torno do adiamento da matéria até março de 2009. "Particularmente, acho a proposta positiva porque não haveria tempo de votar em segundo turno", assentiu o deputado Sandro Mabel, relator da proposta. O recado pegou os governistas no contrapé. A sensação do Palácio do Planalto é a de que uma eventual perda de arrecadação dos Estados no ano que vem, em virtude de possíveis efeitos da crise financeira internacional, pode colocar governadores e suas bancadas em posição mais protecionista. "Há uma incerteza enorme sobre as receitas públicas", disse o governador capixaba Paulo Hartung.
O cerne do debate da reforma tributária está mais na unificação do ICMS do que realmente numa divisão mais igualitária do bolo tributário. A redução de impostos, então, passa ao largo do projeto. Um destaque que previa o corte de 1% ao ano durante oito anos da carga tributária foi vetado ainda na Comissão Especial. É por isso que o debate vem se concentrando na aplicação das alíquotas do imposto sobre circulação de mercadorias. Os Estados do Nordeste acreditam que o projeto pode vir a fixar em 2% o percentual do ICMS a ser cobrado no Estado de origem. Seria o melhor dos mundos para eles. O problema é que os grandes Estados produtores, como São Paulo, Minas Gerais e Paraná, não aceitam a divisão e pleiteiam 4% na origem. "Acho que o governo percebeu que o ambiente não é propício para votar reforma este ano", disse o deputado tucano José Aníbal. "Temos a intenção de fazer a busca de entendimento com o governo, se for realizado nos três primeiros meses de 2009."
Diante desse impasse, a Fiesp elaborou um cardápio de mudanças. O primeiro item a ser colocado na mesa de discussões é a ampliação da base de cálculo e aumento de alíquotas da Contribuição Financeira sobre Extração Mineral (CFEM). Atualmente, a CFEM retém 2% sobre o lucro líquido. Pela nova proposta, iria para 3% do bruto. "Isso é um absurdo. É o mesmo que dobrar o imposto das empresas de mineração", rebateu Skaf. "Quando aumenta para minerais, oneram-se cadeias produtivas inteiras", completou ele. Mas a discordância é bem mais ampla. Mesmo que fosse aprovada neste ano, a reforma tributária entraria plenamente em vigor em 12 anos. Antes, o prazo de transição era de oito anos. "É muito tempo. Não aceitaremos essa prorrogação", enfatizou o presidente da Fiesp. Entre os demais pontos de discórdia na proposta de reforma tributária se destacam ainda o item que permite aos Estados aumento de 5% na cobrança do ICMS, falta de transparência nos impostos e a limitação dos benefícios fiscais à da Zona Franca de Manaus, entre outros.
O levante do meio empresarial chegou com força. Depois que a CPMF foi derrubada, as idéias de Skaf não passam despercebidas na capital federal. O fim do imposto do cheque, que arrecadava R$ 40 bilhões/ano, representou a maior vitória dos contribuintes em muitos anos e foi fruto de uma mobilização nacional liderada pela Fiesp. Desta vez, a entidade espera que a batalha seja mais rápida e menos sangrenta.

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