quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Temporada de limpeza de balanço está só começando

Valor Econômico
14/01/2009
A informação revelada na quarta-feira de que a Time Warner vai reduzir o valor de seus ativos em US$25 bilhões deverá ser um alerta para os investidores: baixas contábeis enormes são algo importante – e não são apenas as companhias de serviços financeiros que precisam delas.
As ações da Time Warner chegaram a cair 9% depois que a empresa de mídia anunciou essa provisão enorme contra os lucros para dar baixa nos chamados bens intangíveis de seus segmentos de TV a cabo, publicação e internet.
As perdas não foram uma surpresa, mas alguns investidores parecem ter sido pegos desprevenidos mesmo assim. Conforme escrevi em novembro, qualquer um que tivesse olhado para a queda do valor de mercado da Time Warner no ano passado podia ver que a companhia estava dando aos seus ativos valores muito mais altos que aqueles que o mercado acreditava que eles tinham. A empresa simplesmente foi lenta na atualização.
Baixas de ativos deste tipo – incluindo reavaliações que reconhecem a perda de valor em marcas, direitos de franquias e outros ativos não-financeiros que carecem de substância física – são importante por algumas razões. Elas são prospectivas porque dizem que a administração concluiu que os fluxos de caixa futuros não correspondem às estimativas anteriores.
Essas despesas, ou a falta delas, também representam um teste de credibilidade. Se os executivos de uma companhia não admitem problemas óbvios, isso é um sinal de que o resto de seus números também podem ser suspeitos.
Antes da notícia da quarta-feira, a ação da Time Warner era negociada a cerca de um terço menos que seu valor contábil, ou patrimônio líquido. Seu valor de mercado estava alguns bilhões de dólares abaixo dos US$42,5 bilhões em ativos intangíveis que apareciam no balancete de 30 de setembro. Em outras palavras, os ativos intangíveis supostamente valiam mais que a Time Warner inteira.
Uma razão que não faz sentido é que os ativos intangíveis não podem ser vendidos por si só. Eles são apenas a entrada de contabilização que as companhias registram quando pagam um ágio para comprar outra empresa. As baixas contábeis são um reconhecimento da Time Warner de que ela pagou demais por aquisições prévias. Talvez uma equipe administrativa diferente tivesse se saído melhor. Pelo menos agora, o patrimônio da empresa parece que vai se aproximar de seu valor de mercado.
Há muito mais do lugar de onde isso veio. Até quarta-feira, a Time Warner estava entre as 196 empresas americanas que valiam menos que seus ativos intangíveis e que estavam sendo negociadas com um desconto sobre o valor contábil, segundo dados da Bloomberg. Combinadas, essas companhias tinham cerca de US$808 bilhões em ativos intangíveis, mais da metade dos quais eram fundos de comércio (“goodwill”). Em comparação, o valor de mercado dessas empresas era de cerca de US$ 451 bilhões. (Os números excluem empresas com valor de mercado de US$100 milhões ou menos).
Até 30 de setembro, o Bank of America mostrava cerca de US$ 112,1 bilhões em ativos intangíveis, incluindo US$ 81,8 bilhões em fundos de comércio. Seu valor de mercado está agora em apenas US$ 67m2 bilhões, ou menos da metade do valor contábil. O balanço do Citigroup mostrava US$63,1 bilhões em intangíveis, incluindo US$39,7 bilhões em fundos de comércio; em comparação, o valor de mercado é de US$39 bilhões.
A News Corp., controladora do “The Wall Street Journal” e da Fox News, tinha US$31,9 bilhões em intangíveis, incluindo US$18,2 bilhões em fundos de comércio. O valor de mercado é de US$ 24,3 bilhões. Outras companhias da lista incluem a provedora de telecomunicação Sprint Nextel, a fabricante de equipamentos médicos Boston Scientific, a operadora de bolsas de valores NYSE Euronext, a varejista Macy’s, a editora jornalística Ganett e as administradoras de investimentos Legg Mason e Invesco.
Há apenas uma maneira de restabelecer a confiança nas demonstrações financeiras. É certificar que elas voltarão a ter alguma semelhança com a realidade. O alerta da Time Warner deve ser só o começo.

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