Gazeta Mercantil
14/04/2009
Na última reunião do G-20, realizada mês passado em Londres, o presidente norte-americano Barack Obama deixou claro que os Estados Unidos não mais seriam a máquina de absorver os excedentes produzidos em quase todos os demais países do mundo. Reflexos desta nova situação já foram sentidos no Brasil, quando o superávit de US$ 448 milhões que o País obteve com os EUA no primeiro trimestre de 2008 se transformou em um déficit de US$ 1,8 bilhão em igual intervalo deste ano. No mesmo período, o Brasil reduziu de US$ 2 bilhões para US$ 220 milhões seu déficit com a China.
Com a crise atingindo em cheio sua economia, os EUA estão importando menos têm mais excedente de produção com menos consumo interno, e isso faz com que eles sejam mais agressivos em suas exportações, avalia Roberto Gianetti da Fonseca, diretor do departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "É um ajuste da balança comercial dos EUA, não só com o Brasil, mas com o resto mundo. A economia norte-americana precisa deste ajuste para reduzir seu déficits fiscal e comercial, que eram insustentáveis", afirma.
Para André Sacconato, da Tendências Consultoria Integrada, esse movimento de redução do déficit comercial já está claro. Antes da crise, argumenta, o Estados Unidos financiavam o seu rombo em contas externas por meio da venda de títulos públicos. "Isso deve mudar, diminuir a magnitude. E eles serão obrigados a fazer o ajuste na balança comercial, pois já não tem como financiar o déficit com lado de capitais", diz.
A origem do primeiro superávit dos EUA com o Brasil em quase uma década está no fato de que as exportações norte-americanas caem em um ritmo menos acelerado do que as importações, lembra Gianetti. O economista destaca que essa mudança é normal dentro das condições atuais, e que o saldo a favor dos Estados Unidos é uma "tendência, e talvez permaneça nos próximos dois ou três anos".
Sacconato afirma que é possível que o Brasil encerre o ano com déficit com os Estados Unidos, dado que o PIB brasileiro deve crescer 0,3% em 2009 em um cenário de retração. Para ele, no entanto, o País voltará a registrar superávits passada a crise mundial. "É só uma conjuntura da crise", avalia.
"Não acredito que seja definitivo [o superávit dos EUA com o Brasil]", afirmou o secretário executivo do ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Ivan Ramalho. A queda principal das exportações brasileiras foi de produtos industriais, "e é por isso que em março a China foi o primeiro destino comercial das exportações brasileiras, porque eles compram mais produtos agrícolas, e estes não registraram quedas expressivas", salientou.
terça-feira, 14 de abril de 2009
Crise muda perfil da balança comercial
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