sexta-feira, 5 de junho de 2009

Mais empresas renegociam debêntures com credores

Valor Econômico / Silvia Fregoni e Tatiana Bautzer
05/06/2009
Aumenta a cada dia o número de empresas que precisa renegociar as suas debêntures. Em alguns casos, a repactuação deve-se a problemas de caixa. Mas em muitos casos, a crise deteriorou indicadores econômicos e financeiros das companhias, causando o descumprimento de cláusulas financeiras previstas nas emissões, o que pode antecipar o vencimento dos títulos.
A Lojas Americanas renegociou no mês passado R$ 200 milhões em debêntures. As principais mudanças foram no prazo de vencimento e na remuneração de duas séries de títulos. A empresa prorrogou o vencimento de janeiro de 2011 para janeiro de 2012. Em troca, triplicou o prêmio pago sobre o CDI nos papéis, saindo de CDI mais 0,9% ao ano para CDI mais 2,8% ao ano. Os papéis previam uma amortização em 2010, que foi transferida para a nova data de vencimento. Apenas para os debenturistas da segunda série foram pagos 0,8% sobre o valor total da emissão.
Segundo a Oliveira Trust, agente fiduciário, a companhia teria preferido realizar as mudanças a fazer nova captação de recursos, que resultaria em custos maiores. Outra medida foi alterar índices financeiros das emissão. As alterações de remuneração e prazo foram aprovadas por unanimidade, mas os fundos da gestora BRZ Investimentos votaram contra a mudança de índices financeiros. Consultada, a companhia preferiu não comentar o assunto.
Os resultados da Lojas Americanas no primeiro trimestre do ano sofreram um pouco por causa da crise, com a redução de 2,1% da receita líquida sobre o mesmo período de 2008. A receita ficou 8,8% abaixo da projetada pelos analistas Renato Prado, Ronaldo Kasinsky e Christiane Reimão, da Fator Corretora. O lajida, utilizado para cálculo dos índices financeiros de debêntures, entretanto, ficou dentro das expectativas.. Foi de R$ 102 milhões, 15% acima do mesmo período do ano passado e 55% abaixo do quarto trimestre de 2008.
A Klabin Segall, de construção civil, também procurou os credores. A empresa adiou pela segunda vez o pagamento dos juros da segunda emissão de debêntures, de R$ 230 milhões. Previsto para abril, o pagamento foi adiado para 1º de junho e, agora, para 1º de julho.
Dona de uma dívida bruta de R$ 677,9 milhões, sendo quase 70% (R$ 447 milhões) em debêntures, a Klabin adiou o pagamento depois de descumprir cláusulas financeiras do prospecto. Por conta disso, a empresa chegou a ser rebaixada pela Standard & Poor's a uma classificação usada apenas para empresas inadimplentes, mas depois da renegociação a agência revisou a nota, mantendo a perspectiva negativa. O valor das debêntures é maior que o patrimônio líquido da empresa, de R$ 377,7 milhões. A auditoria Deloitte colocou ressalva no balanço alertando para o fato.
Os credores das debêntures da Klabin Segall apresentaram nesta segunda-feira um documento pedindo que a empresa cumpra determinadas condições na proposta de repactuação. Os debenturistas votarão só na semana que vem, e a empresa disse que só comentará o assunto depois da assembleia.
A construtora Gafisa é outra com problemas. Uma das cláusulas da quarta emissão da companhia, de R$ 240 milhões, feita em setembro de 2006, dizia que a dívida líquida da empresa não podia ultrapassar R$ 1 bilhão, o que aconteceu no primeiro trimestre (R$ 1,062 bilhão). A Gafisa está em renegociação com os credores.
Segundo os analistas Eduardo Silveira e Sami Karlik, da Fator, a esse é um dos motivos que levaram a companhia a preparar uma oferta de ações, que deve ficar entre R$ 600 milhões e R$ 700 milhões. Com a emissão de ações, a alavancagem financeira da empresa cairia de 62% para 45%.
À espera de aprovação da CVM de uma nova emissão de R$ 11 milhões em debêntures, o Hopi Hari convocou ontem os debenturistas para repactuar toda a dívida que está em mercado, sem anunciar detalhes. A reunião será no dia 18. No mesmo dia, os acionistas discutirão uma "reestruturação societária e financeira" mais ampla do parque temático.

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