Rodrigo Pstigo
17/03/2008
O Brasil, grande produtor e exportador agropecuário, tira proveito no momento do crescimento da demanda mundial por esses produtos, que têm compensado com preços melhores a taxa de câmbio e até embargos sanitários, como o da carne bovina pela União Européia.
Mas o País deve se preparar para eventuais conseqüências negativas futuras dessa maior demanda global pelos produtos agrícolas, que tem elevado os preços e gerado um fenômeno conhecido como "agrinflação" (inflação agrícola).
"O que temos que fazer é aproveitar esse movimento agora, uma vantagem de melhoria de renda (dos emergentes) que ajuda inclusive a compensar a desvalorização do dólar. Mas temos que entender que o Brasil precisa ter uma estratégia para daqui a dois a três anos", disse o ex-ministro da Agricultura do Brasil, Marcus Vinícius Pratini de Moraes.
E Pratini ressaltou que o problema vai além do setor agrícola, com grandes investidores e fundos aplicando recursos não apenas em ações, mas também em commodities nas bolsas, elevando os preços futuros de uma série de mercadorias.
"A inflação global, quando ocorre, a consequência dela é uma redução global dos níveis de crescimento", acrescentou ele, que está deixando a presidência da Associação dos Exportadores de Carne Bovina (Abiec) para se tornar consultor do maior grupo mundial de bovinos, o brasileiro JBS.
Segundo ele, embora o Brasil não esteja sendo afetado fortemente por uma inflação dos preços das matérias-primas no momento, ao contrário, pode sofrer em três anos o impacto negativo de uma queda nas cotações das commodities.
Com a escalada da inflação em países emergentes, a renda real nessas nações começaria a perder brilho, e a capacidade de consumo cairia, mesmo com as commodities subindo menos.
"Tenho visto muita gente falar que isso não afeta os países emergentes, mas acho que a coisa não é bem assim. Estou voltando a ler o que aconteceu na crise de petróleo em 72 e 73, está se montando mais ou menos o mesmo cenário, que se chama inflação global".
Segundo Pratini, que falou na última quinta-feira, durante um evento da Abiec, quem não estiver preparado para os efeitos dessa inflação global "sofre muito como nós sofremos no Brasil naquela época".
Entretanto, do lado do balanço de oferta e demanda agrícola, segundo a consultora da MB Associados Ana Laura Menegatti, os preços devem continuar elevados neste ano, com a produção de grãos, mesmo maior, incapaz de esfriar o mercado, influenciado pela demanda adicional dos biocombustíveis.
"Os preços do trigo estão altos por causa de problemas na Europa e duas quebras seguidas de safra na Austrália, mas os preços do milho e da soja subiram devido aos biocombustíveis."
Para a consultora, mesmo sem maiores problemas nas safras globais de trigo, o milho e a soja continuarão em alta no curto prazo, puxando também os custos de produção de grãos.
Uma alternativa para minimizar os efeitos da inflação global de alimentos no futuro, segundo o diretor-executivo da Abiec, Antônio Camardelli, seria a redução das tarifas e embargos "técnicos" por parte de países importadores.
O executivo, que não acredita no sucesso da Rodada de Doha, vê em possíveis acordos bilaterais uma possibilidade para o setor agrícola manter sua força, ao mesmo tempo em que os negócios internacionais de alimentos poderiam crescer, elevando a oferta onde os preços hoje são um problema.
De outro lado, ele acredita que "esse ciclo criado pela carência de carne no cenário internacional vai fazer com que as barreiras técnicas se reduzam, pela necessidade de abastecimento de alguns países".
segunda-feira, 17 de março de 2008
Brasil tem que se preparar para efeitos da "agrinflação"
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