sexta-feira, 30 de maio de 2008

Grau de investimento sozinho não deve alterar o cenário

Invertia / Denise Campos de Toledo
30/05/2008
O novo investment grade para o Brasil, concedido pela agência Fitch, abre perspectivas bem favoráveis para uma maior atração de investimentos estrangeiros. É um reforço no aval já dado pela S&P com o primeiro grau de investimento. Representa também a confirmação de que as melhorias obtidas na economia do País, especialmente em relação às contas externas, deixam o Brasil mais confiável e um porto mais seguro para os investimentos. Muitos fundos de pensão precisavam de um segundo grau de investimento para poder trazer recursos pra cá.
Porém, o mercado já percebeu que apenas isso não altera substancialmente o cenário. Os investidores levam em conta outros fatores, como o quadro internacional, ainda marcado por muitas dúvidas relacionadas à crise nos Estados Unidos.
Fora isso, o comportamento da bolsa, em particular, pode ser influenciado por fatores específicos, como a evolução dos preços das commodities. O petróleo caiu, pesou nas ações da Petrobras, o que ajudou a minimizar os reflexos positivos que a nova nota poderia ter sobre o mercado acionário brasileiro.
Por outro lado, a novidade veio em um dia de realização de lucros. O mercado já tinha antecipado a nova nota, também subiu demais por outros fatores. Vários papéis atingiram patamar considerado caro e era o momento de um ajuste, independentemente do investment grade.
O mercado parece mais realista, depois de constatar que a mudança na avaliação do País não vai provocar uma enxurrada de investimentos. Isso não ocorreu com a nota da S&P e não vai acontecer agora com a da Fitch.
Mas, as perspectivas são boas. É um aval importante, que pode reforçar a atratividade do País e sustentar a tendência de alta da bolsa e de queda do dólar. Só que outros fatores podem, realmente, limitar esses movimentos.
Apesar dos avanços das contas externas, estamos em um momento de volta dos déficits, com piora da balança comercial, o que pode ser um limitador para a queda do dólar em médio prazo. As contas públicas apresentam superávits robustos, mas obtidos graças à manutenção de uma carga tributária elevadíssima, com gastos em expansão. A inflação voltou à pauta das preocupações e já detonou a um novo ciclo de alta dos juros.
Mesmo com o investment grade, há problemas a serem equacionados que não dão espaço para muita empolgação. A nova nota é merecida, porque a economia brasileira obteve avanços inegáveis e está menos vulnerável e mais confiável. Mas, a reestruturação efetiva ainda tem um longo caminho pela frente, inclusive em pontos considerados positivos, como as contas externas e as contas públicas.

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