Folha de São Paulo
13/08/2008
Além da vida mais difícil por causa do câmbio e da infra-estrutura precária, os exportadores brasileiros começam a desembolsar mais com os fretes. Somente neste ano, os custos para o transporte marítimo das exportações subiram entre 57% (no caso dos automóveis) e 150% (para o minério de ferro, principal produto embarcado nos portos do país).
O aumento dos fretes vem embalado pela explosão dos preços do petróleo no mercado internacional nos últimos meses. Segundo levantamento do Ministério do Desenvolvimento, cada US$ 10 de alta na cotação do barril representa elevação de US$ 500 por dia no frete de navios cargueiros. Nos últimos 12 meses, o petróleo passou de US$ 71,47 para US$ 115,20 no pregão de Nova York. Nesse período, a cotação chegou a ultrapassar os US$ 145.
Os valores de frete cobrados hoje no país são os mais altos da história. E isso significa maior dificuldade no comércio. Estudo do CIBC (Banco Canadense Imperial de Comércio, na sigla em inglês) indica que esses custos já representam uma tarifa adicional de 9% sobre os produtos comercializados.
A situação no Brasil se torna mais caótica quando o aumento do frete encontra os gargalos de infra-estrutura dos portos. Segundo o consultor de Logística da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Luiz Antônio Fayet, a infra-estrutura deficiente causou prejuízo de US$ 3 bilhões a US$ 5 bilhões na recente safra colhida, com o pagamento de multas e taxas por causa de atrasos em embarques e desembarques.
Para o ano que vem, a estimativa é a de que 3 milhões de toneladas de milho e soja deixem de ser plantadas, dadas as dificuldades de escoar a produção. Os dois itens representam 83% da produção total de grãos atual. A soja alcançou 60,1 milhões de toneladas, e o milho, 58,5 milhões de toneladas.
"Os custos do frete já estão provocando redução da produção de soja e milho em vários Estados. Estamos condenando a produção agrícola", afirma.
No ano passado, cerca de 3 milhões de toneladas de soja precisaram ir de caminhão de São Luís (MA) para Santos (SP) e Paranaguá (PR) para serem embarcadas ao exterior.
Industriais e produtores agrícolas também pagam nas importações pelo aumento do frete. As fábricas trazem insumos, como produtos químicos e equipamentos. O campo precisa de fertilizantes, que pagaram US$ 150 milhões em taxas portuárias em 2007 pelas filas para conseguir desembarcar.
Diante dos gastos maiores para exportar e do aumento do consumo no Brasil, a indústria enfrenta quase semanalmente o dilema sobre vender para fora ou no país. "Esse jogo você vai adaptando diariamente. Quando se torna gravoso exportar, ou o empresário suspende, e tem de trabalhar para o mercado interno, ou reduz a produção", afirmou o presidente do Conselho Temático de Infra-Estrutura da CNI (Confederação Nacional da Indústria), José de Freitas Mascarenhas. O setor que sente mais rapidamente a alta nos custos, diz ele, é o químico, que depende de produtos do exterior.A dificuldade também é maior, segundo o Ministério da Agricultura, porque 40% da frota mundial de navios cargueiros está em construção. As novas embarcações ficarão prontas em três a cinco anos.
Para Flávio Benatti, presidente da Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística, o caminho natural é o consumidor pagar a conta. "Nenhuma empresa de transporte tem gordura suficiente para absorver esse aumento."
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Custo do frete aumenta até 150% no ano
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário