segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Governo errou em apostar só na Bolívia, dizem especialistas

Redação Terra / Peter Fussy
15/09/2008
Incidentes na Bolívia durante a semana cortaram temporariamente parte do fornecimento de gás natural ao Brasil. Segundo especialistas, houve decisões equivocadas e descuido por parte do governo brasileiro na exploração do combustível, que deixaram o País "refém" do vizinho. Com isso, a previsão é que ainda devemos passar mais cinco anos dependentes do fornecimento externo de gás para manter o ritmo de crescimento econômico.
Atualmente, o Brasil recebe cerca de 30 milhões de metros cúbicos de gás por dia da Bolívia. A quantia equivale a praticamente 50% do consumo brasileiro, o que pode ser um perigoso para as ambições nacionais, segundo Giuseppe Bacoccoli, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
"Dependemos de um país que, com todo respeito, está à beira de uma guerra civil e não é novidade. As diferenças étnicas são acentuadas e não permitem garantir situação estável. Houve no passado um certo descuido com a exploração de gás e não há soluções de curto prazo", disse o consultor, que trabalhou na área de exploração da Petrobras entre 1965 e 1997.
"Até os anos 1970 não havia mercado de gás natural, que são indústrias de alta tecnologia. Como não havia mercado, a Petrobras achava que não era preciso explorar, porque seria jogar dinheiro fora. Esse descuido levou a uma situação explosiva no final dos anos 1990. A indústria passou a demandar gás e não havia. Neste momento se tomou a decisão de construir o gasoduto Brasil-Bolívia", explicou Bacoccoli.
Com o esgotamento dos melhores recursos hidrelétricos e o acordo de importação com a Bolívia, em regime take-or-pay - o País é obrigado a comprar as quantidades estipuladas pelo contrato -, o governo brasileiro criou em 2000 o Plano Prioritário de Termelétricas (PPT), utilizando o gás natural. No entanto, para Sergio Bajay, do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o plano é um exemplo de como não se deve agir.
"É muito ruim para quem depende fortemente dessa fonte energética ouvir essa conversa de que pode não haver gás. Tem empresa que está segurando a expansão, como no caso dos setores de vidro e cerâmica. Isso reflete a falha do planejamento com o abuso de termelétricas no PPT", apontou Bajay.

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