Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados / Ana Cristina Góes
03/10/2008
O Comitê de Política Monetária (Copom) estará em uma encruzilhada na próxima reunião, agendada para os dias 28 e 29 deste mês. De um lado está crise financeira norte-americana e a desaceleração da economia global batendo à porta, do outro a demanda interna ainda aquecida e o compromisso de manter o aperto monetário para convergir a taxa de inflação para o centro da meta no próximo ano. Se a forte queda no preço das commodities no mercado internacional alivia as pressões inflacionárias, a recente disparada na cotação do dólar na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) pode contaminar os preços. O economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto, acredita que o Banco Central (BC) manterá o ritmo de aperto monetário mesmo com o cenário de desaceleração da economia. "A situação é difícil, todas as perspectivas apontam para o impacto da crise americana na economia doméstica. Mas os últimos indicadores mostram um descompassado entre oferta e demanda. O dólar é outro ponto que agrava a situação. Com esta volatilidade, ninguém sabe qual será o patamar de equilíbrio do câmbio", afirma Campos Neto. O estrategista-chefe do Crédit Agricole, Vladimir Caramaschi, concorda que o câmbio é um fator decisivo para o Copom optar por manter o aperto monetário, apesar do desaceleramento econômico global. "Acredito que o Copom eleve o juro em 0,5 ponto percentual por causa do câmbio. Até a semana passada poderia afirmar que a taxa de câmbio não seria problema. No entanto, diante desta recente disparada do dólar existe a chance de contaminação dos preços", avalia Caramaschi. Para o diretor presidente do Ibmec, Claudio Haddad, a possibilidade de a recessão norte-americana contaminar a economia doméstica é remota. "O Brasil está numa situação completamente diferente dos Estados Unidos", afirma Haddad, que acredita que ainda existe espaço para o Banco Central (BC) dar prosseguimento ao aperto monetário. "Na próxima reunião acredito que o Copom promova um aumento entre 0,25 e 0,50 ponto", estima. Na contramão, o ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Nicola Tingas, prevê que o Copom vai surpreender e interromper o ciclo de alta na taxa Selic, mantendo o juro básico em 13,75% ao ano. "Estamos vivendo uma crise de solvência. O temor aqui no Brasil é de que o enxugamento da liquidez tenha um efeito local. A oferta de crédito menor pode comprometer o crescimento da economia doméstica", disse. Crise financeira O ex-diretor do Banco Central (BC) e sócio da Ciano Investimentos, Ilan Goldfjan, afirma que a atual crise financeira é conseqüência de vários erros cometidos no passado. "É igual um acidente aéreo. É um conjunto de erros, não um só. Não dá para achar um só culpado nesta situação", afirmou. Para o ex-diretor do Banco Central, a situação atual da economia doméstica se assemelha a de um avião procurando uma pista longa para pousar. "Se quiserem que a economia brasileira mantenha o ritmo de crescimento de 6% ao ano não vai dar, me desculpe. No contexto atual, a economia doméstica vai acompanhar a tendência de desaceleração global", afirmou Ilan Goldfjan.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Desaceleração econômica e inflação dividem o Copom
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário