The New York Times / Jiam Yardley e Keith Bradsher
03/11/2008
Por três décadas, a China vem alimentando sua notável ascensão econômica e se tornando a fábrica do planeta, o que resultou em um maremoto de exportações a baixo preço. Mas diante da possibilidade de uma recessão mundial e de queda na demanda pelas exportações chinesas, a questão agora é determinar se o Partido Comunista, que governa o país, será capaz de impedir que a crise financeira tire dos trilhos o milagre econômico chinês.
A questão é premente não só para a China, como para o resto do mundo. Funcionários do governo e muitos economistas americano afirmam que manter o crescimento chinês é vital para a economia mundial, diante da severa desaceleração nos Estados Unidos e na Europa.
Mas para superar a crise, dizem analistas, a China terá de reformular seu modelo econômico, encorajar o investimento interno por meio de fortes gastos públicos e promover políticas que ampliem a demanda de consumo em um país conhecido por seu nível elevado de poupança.
A crise mundial também está surgindo em um momento de profunda ressonância política para os chineses. Outubro marca o 30° aniversário das políticas de reforma que primeiro deflagraram o crescimento propelido pelas forças de mercado na economia do país, um marco que despertou questões inevitáveis sobre os próximos passos que a China terá de tomar a fim de se tornar uma potência econômica e política completamente moderna.
Em nível geopolítico, a China parece bem posicionada para expandir sua influência. O país conta com reservas cambiais da ordem de US$ 1,9 trilhão, acumuladas devido ao gigantesco superávit comercial e ao pesado investimento estrangeiro na China, e seria possível adquirir participações em bancos e companhias industriais do Ocidente a preços favoráveis.
Mas, por enquanto, a maioria dos analistas afirma que a principal prioridade da China será a proteção de sua economia. Os líderes chineses dizem que o sistema financeiro interno fica em larga medida isolada da crise mundial - os bancos chineses mantêm seu foco interno e têm relativamente pouca exposição aos títulos tóxicos vendidos por bancos norte-americanos e europeus. Mas o crescimento econômico caiu ao mais baixo nível em cinco anos, o desemprego se tornou uma preocupação crescente e dezenas de fábricas estão sendo fechadas nas regiões exportadoras do país. As bolsas de valores chinesas perderam 65% de sua capitalização, e as vendas de imóveis despencaram.
Ainda parece provável que a China evite uma recessão aberta, mas um crescimento significativamente mais baixo poderia representar desafio político para o Partido Comunista, que deriva boa parte de sua legitimidade do fato de que gerou empregos e riqueza crescente para o povo chinês. A sabedoria convencional dispõe que a produção chinesa precise crescer ao menos 8% ao ano a fim de que a economia absorva o crescimento da população em idade de trabalho, e muitos economistas antecipam que o crescimento será inferior a isso no ano que vem.
Os líderes chineses já estão preparando uma resposta que poderia se assemelhar à onda de gastos públicos realizados entre 1998 e 2000, um recurso que leva crédito por ter evitado que a China sofresse as plenas conseqüências da crise financeira asiática que irrompeu em 1997. O então primeiro-ministro Zhu Rongji despejou bilhões de dólares em projetos de controle de inundações, construção de estradas e criação de novos aeroportos, com o objetivo de estimular a atividade econômica. Boa parte dessa infra-estrutura é hoje considerada necessária para que a China mantenha sua vantagem competitiva como fabricante de bens industrializados.
Hoje são necessárias melhoras nas ferrovias e na rede elétrica, mas a necessidade mais conspícua da China está relacionada ao lado mais humano de uma economia moderna - uma rede de saúde, custos mais baixos para escolas e universidades e melhoras no rudimentar sistema de previdência do país, dizem os economistas.
Medidas como essas são consideradas cruciais se a China pretende dar aos seus consumidores - especialmente os operários residentes em áreas urbanas e os 800 milhões de chineses ainda classificados como camponeses - a confiança que os faria consumir em lugar de expandir sua poupança.
"A infra-estrutura da China é excelente - compare-a com a da Índia", disse Xu Xiaonian, professor de Economia na Escola Internacional China Europa de Administração de Empresas, em Xangai. "Está se tornando mais difícil para o governo investir produtivamente. Chegamos ao ponto de promover estímulo apenas porque é preciso estímulo".
Até o momento, a medida nova mais significativa é uma reforma agrária. Os detalhes plenos do programa ainda não estão claros, mas ele permite que os fazendeiros pela primeira vez arrendem ou transfiram seus direitos de uso da terra, um passo histórico para um país ainda nominalmente socialista. Os economistas dizem acreditar que a medida vai melhora a economia rural, ainda que poucos prevejam benefícios súbitos. Para elevar mais rápido a renda rural, a principal agência de planejamento do governo chinês elevou em 15% o preço mínimo de compra de trigo, a partir do começo do ano que vem.
É provável que transformar o setor rural e criar uma nação de consumidores seja tão difícil quanto fazer da China um gigante industrial. Nos últimos anos, o presidente Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen Jiabao eliminaram o antiqüíssimo imposto sobre a agricultura e elevaram os gastos com iniciativas rurais, mas a disparidade entre campo e cidade continuou crescendo.
A China continua a ter mais de 500 milhões de habitantes que vivem com menos de US$ 2 ao dia, e a renda per capita do país é de apenas US$ 2 mil. A rede de segurança social continua tão precária que a maioria dos camponeses precisa guardar parte do que ganha para se proteger contra qualquer emergência médica ou para criar uma modesta segurança na velhice.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Crise financeira sobrecarrega crescimento chinês, diz NYT
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário