Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados / Jiane Carvalho
09/12/2008
As conseqüências da recessão na economia americana, desencadeada pela crise nas hipotecas subprimes que levou à quebra de bancos e à perda de riqueza das famílias americanas, deve perdurar até 2010. A conclusão, nada otimista e que inclui a quebra de muitas empresas americanas, consta de um estudo da Bain Corporate Renewal Group (Bain CRG), uma subsidiária da consultoria empresarial global Bain & Company. O risco de quebradeira atinge um universo de até 120 empresas americanas com mais de US$ 100 milhões de patrimônio só em 2009.
Para chegar à essa conclusão, a Bain cruzou informações macroeconômicas, dados da saúde financeira das empresas e do comportamento histórico do consumidor. A origem desta crise, diferente de outras, explica parte das conseqüências estimadas pelo estudo. "A crise atual nasceu na ponta do consumo, é reflexo direto da descapitalização dos americanos que tinham hipotecas imobiliárias, e não de problemas empresariais, como a crise pontocom em 2001", explica Giovanni Fiorentino, diretor responsável pelo escritório da Bain no Brasil. "Por esse motivo, a recessão americana vai ser mais demorada do que outras enfrentadas pelo País."
Na média, conforme consta do estudo, os Estados Unidos saíram das últimas recessões em 10,4 meses. Isto não irá se repetir. "A falta de liquidez, a dificuldade em fazer com que os recursos voltem a circular, prolongarão os efeitos da crise até, pelo menos, o primeiro semestre de 2010", diz Fiorentino. Os dados coletados pela Bain levaram a empresa a estimar um decréscimo no PIB americano entre 1% e 2%, equivalentes a uma contração de US$ 300 bilhões. "O comportamento do consumidor e das empresas, neste novo cenário de liquidez restrita, sustenta esta estimativa de contração do PIB", diz o responsável pela empresa no Brasil. Do ponto de vista das empresas, o estudo estima um decréscimo de US$ 211 bilhões na amortização da dívida. Já os consumidores tendem a desviar US$ 500 bilhões do gasto de consumo para investimentos. "A poupança do norte-americano está muito abaixo dos padrões históricos e a tendência é de que haja um desvio de recursos que iriam para consumo até que o padrão de poupança seja recomposto", explica Fiorentino. Na média histórica, a poupança do americano representava 8% do PIB. Hoje, não chega a 1%. "Eles vão querer restaurar a riqueza perdida, o que é natural."
O cenário traçado levará, até 2010, a um aumento da inadimplência e também à uma onda de quebra de empresas, conforme o estudo. A taxa de inadimplência projetada para as empresas nos Estados Unidos, com dívida avaliada como especulativa ou nível "B" pelas agências de rating, deve fechar este ano em 4,1%, bem superior aos 0,9% registrado em 2007. No ano que vem, 2009, a inadimplência sobe para algo entre 10% e 12% ou de 160 a 190 empresas. Só volta a cair em 2010, com a estimativa da Bain na faixa de 7% a 9%, com outras 120 a 140 empresas em dificuldades.
No universo das empresas americanas com mais de US$ 100 milhões em ativos, foco do estudo da Bain, o risco de insolvência seguirá elevado até 2010. O estudo estima que as insolvências empresariais crescerão no ano que vem para a faixa de 95 a 120 companhias, bem superior à banda deste ano, entre 50 e 75 empresas. Em 2010, a expectativa é que perto de 100 empresas possam ficar insolventes.
"Alguns setores da economia, evidentemente, são mais sensíveis que outros e aparecem na pesquisa como os de maior risco de falência", explica Fiorentino. "As empresas que correm mais risco são de mídia e entretenimento, varejo, restaurantes e produtos de consumo não duráveis." Em um cenário como o desenhado pela pesquisa, diz o diretor da empresa no Brasil, a alternativa, para quem puder, é aproveitar o momento e crescer.
"Empresas com balanços patrimoniais positivos, além de controlar seus gastos, devem avaliar as oportunidades de adquirir ativos, ganhando mercado neste momento", diz Fiorentino. O executivo faz apenas um alerta. O risco para estas empresas, diz, é ir às compras antes da hora. É preciso definir bem o timing de sair ao mercado para aproveitar as melhores oportunidades. "O melhor momento para uma compra é quando a crise estiver em seu pior momento, o que ainda não chegou, por isso o timing é tão importante."
Já as empresas com balanços patrimoniais fracos não têm muitas opções. "A única alternativa é tentar sobreviver à crise. Quem tem balanços patrimoniais fracos e posições competitivas fracas têm grandes chances de não sobreviver ao presente declínio econômico, a menos que sejam tomadas decisões drásticas para reestruturar a atividade", diz o executivo.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Efeitos da crise ganham força até 2010
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