segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Sustentabilidade ganha força com pressão de investidores

Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados / Áluísio Alves

12/11/2007

Desde sua criação, em 1995, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) penou para convencer as empresas de que respeito a acionistas minoritários, transparência na divulgação de informações e gestão profissionalizada as tornaria mais fortes e valorizadas no mercado. Gradualmente, o tema ganhou força entre bancos, investidores, governo e outras instituições do mercado. Hoje, um quarto das 450 empresas da Bovespa são listadas voluntariamente aos níveis superiores de governança corporativa, que exigem, por exemplo, tag along para todos os acionistas e submissão a uma Câmara de Arbitragem para solucionar conflitos societários. Agora, o instituto quer estabelecer parâmetros mínimos para a discussão sobre a sustentabilidade, tema que subitamente virou coqueluche na maioria das empresas, embora poucas sabem trabalhá-lo de forma séria. Nesta entrevista, o presidente do IBGC, José Guimarães Monforte, explica porque o tema será o principal assunto do 12 Congresso Anual da entidade, que começa hoje, e de que forma ela se associa com a governança corporativa.

Gazeta Mercantil - Depois da repercussão criada como Painel da ONU sobre Mudanças Climáticas, diversas empresas vêm utilizando iniciativas ambientais como estratégia de marketing. A sustentabilidade não deveria ser um tema mais abrangente que isso? Nós queremos discutir estratégias para garantir a perenidade das empresas e não de bom mocismo corporativo. A sustentabilidade de que falamos é a que inclui o envolvimento do Conselho de Administração na formulação de estratégias de longo prazo e sua implementação na prática.

Gazeta Mercantil - Mas esse nível de discussão não está restrito a um grupo muito pequeno de empresas no Brasil? Na média, o nível da discussão está bastante elevado no Brasil, mesmo para padrões internacionais. O próprio processo de internacionalização vivido por muitas empresas e a conseqüente pressão de investidores levam à busca por práticas de sustentabilidade e por perenidade corporativa. Ainda há alguma confusão, mas isso é uma história parecida com a evolução dos estágios iniciais da governança corporativa no País. Não vejo risco de que o interesse pelo tema seja só uma onda.

Gazeta Mercantil - É possível medir e comparar o desempenho das empresas em sustentabilidade?A companhia tem que deixar claro como pretende sustentar seus resultados em horizontes mais longos. E já existem alguns indicadores que ajudam nesse sentido, como o GRI (Global Reporting Initiative, padrão internacional para relatórios de práticas sustentáveis). Também pretendemos incluir diretrizes sobre o tema no guia de IBGC de boas práticas.

Gazeta Mercantil - Pode citar alguma? Estamos muito preocupados com a hegemonia do ‘curto prazismo’ na estratégia das empresas. Nesse sentido, correr atrás do lucro máximo pode não ser a melhor política. Em vez disso, as empresas deveriam discutir como conseguir o lucro ótimo, que inclui a discussão sobre a capacidade de repetir e melhorar esse lucro ao longo do tempo.

Gazeta Mercantil - Mas isso não tem mais a ver com analistas de bancos e corretoras? Afinal são eles que apontam o guidance trimestral como mostra de boa governança. Tranparência não tem a ver com guidance. Semanas atrás, o International Corporate Governance (ICGN) teve uma discussão sobre esse assunto e recomendou às empresas acabar com a divulgação de guidances trimestrais. Nós vamos debater isso com os analistas também no Brasil.

Gazeta Mercantil - Nos últimos meses, as notícias de empresas tidas como referência em sustentabilidade não foi dos melhores. A Natura enfileirou resultados trimestrais ruins e o ABN foi comprado pelo Santander. Esses casos não tiram parte da força do discurso da perenidade das companhias? Eventuais movimentações não invalidam a abordagem do assunto. Mesmo em momentos de ajuste, os agentes de mercado avaliam as empresas tidas como sustentáveis com prêmios significativamente maiores do que a média das empresas.

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