BBC Brasil
26/03/2008
Uma reportagem do diário financeiro britânico Financial Times avalia que a tentativa de privatização da Cesp, que terminou sem resultado na última terça-feira, foi prejudicada pelo momento "infeliz" pelo qual passam companhias em todo o mundo.
Em artigo de grande destaque, o jornal explica as razões do fracasso da venda da companhia energética paulista, produtora de cerca de 10% de toda a eletricidade gerada no País e cuja venda poderia arrecadar mais de R$ 6,6 bilhões.
"Em um sentido amplo, o momento foi infeliz para o Brasil, que depois de meses de vigor financeiro entrou em águas turbulentas nas últimas semanas", diz o repórter do FT em São Paulo.
"A queda de mais de 8% nos preços de commodities na semana passada desencadeou reduções no mercado acionário local e trouxe a crise financeira global para mais perto do País, em relação a qualquer outro momento desde o surgimento de problemas no mercado americano de hipotecas de alto risco (tipo subprime)."
O jornal também menciona aspectos legais - e até políticos - que podem ter influenciado no cancelamento da venda da Cesp. O mais evidente é o curto prazo - até 2015 - restante para o fim das concessões das usinas de Jupiá e Ilha Solteira, que respondem por 67% da produção da Cesp.
Investidores hesitam em assumir compromissos financeiros bilionários sem saber se haverá uma mudança legal para permitir que as licenças sejam renovadas por uma segunda vez.
"Tudo isto é complicado por fatores políticos a meses das eleições municipais de outubro. (O governador de São Paulo, José) Serra vem defendendo uma mudança na lei federal que possibilitaria a renovação das concessões, o que maximizaria as receitas do Estado", conta o FT.
"O governador, entretanto, é líder do partido de oposição PSDB, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem relutado em cooperar."
Vale do Rio Doce
Em outros artigos, outra companhia brasileira ganhou destaque em jornais estrangeiros nesta quarta-feira: a Vale do Rio Doce, que anunciou ter desistido da compra da mineradora Xstrata, um negócio que poderia ter atingido US$ 90 bilhões.
Citando fontes próximas ao negócio, o FT disse que, após três meses de negociações, "ficou claro que a Vale não conseguiria elevar sua proposta para um nível aceitável pela Xstrata, particularmente em função da instabilidade no mercado de crédito".
"Entende-se que a Xstrata pedia uma oferta maior com base nas fortes projeções para os mercados de cobre e carvão, dois de seus principais produtos."
Já o diário financeiro americano The Wall Street Journal notou que a negociação "estava sendo observada cuidadosamente como um indicador de quão profundo será o efeito da instabilidade nos mercados financeiros globais sobre as fusões e aquisições".
"Impulsionado por preços em ascensão de matérias-primas como o cobre e o ferro, o setor de mineração tem sido um dos raros nichos no mercado de fusões e aquisições, ameaçado pelo declínio no crédito disponível e no crescimento econômico mundial."
quarta-feira, 26 de março de 2008
Fracassado leilão da Cesp foi em "hora infeliz", diz 'FT'
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