segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Expansão do etanol mudará o eixo do poder energético, revela estudo

Gazeta Mercantil/Caderno C / Ricardo Rego Monteiro

19/11/2007

Só mesmo a expansão mundial do etanol como alternativa energética deverá derrubar definitivamente os preços internacionais do petróleo do atual patamar médio de US$ 100. Embora tal fenômeno só deva ocorrer em um prazo de 10 anos, no mínimo, representará um dos sintomas da mudança da geografia energética mundial. Responsável por tal conclusão, o físico nuclear Roberto Hukai, professor da Instituto de Energia e Eletrotécnica da Universidade de São Paulo, revela que, como resultado, o eixo do poder energético mundial será transferido do Oriente Médio para os trópicos, com especial influência do Brasil.

Tais conclusões encontram-se no estudo "A nova geografia energética mundial", que será apresentado pelo acadêmico no 4º Encontro Empresarial Brasil-Portugal, que será promovido pela Câmara de Comércio dos dois países no próximo dia 7 de dezembro, no Rio. Por meio do documento, o especialista traça panorama otimista do país na futura geopolítica do setor. A partir dessa nova realidade, Hukai também prevê que os grandes conglomerados brasileiros do agronegócio deverão assumir influência análoga ao papel hoje exercido por gigantes mundiais do petróleo, como Shell, Exxon e BP.

Para o especialista, as pressões ambientais e as cada vez mais inóspitas reservas de combustíveis fósseis constituirão os dois grandes vetores da grande mudança que, segundo ele, já se encontra em curso no mundo. Se é possível identificar um vilão determinante para tal processo, Hukai não se faz de rogado ao apontar o setor mundial de transportes. Como exemplo, revela que, só no ano passado, o consumo per capta de combustíveis fósseis aumentou 3,6%, devido principalmente ao crescimento da frota mundial de veículos e aeronaves. Nos últimos 20 anos, essa média se limitou a 1,5%.

O estudo revela que até o ano de 2040 um total de 2,5 bilhões de pessoas será incorporada ao mercado mundial de consumo. O contingente terá renda per capita de US$ 3 mil/ano, o que de acordo com o professor da USP será revertida em mais 300 milhões veículos à frota de países como China e Índia. Nos últimos 24 anos, compara o estudo, a indústria cresceu 15% nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No mesmo período, o setor de transportes alcançou taxa de crescimento de 103%. Desse total, de acordo com Hukai, os Estados Unidos responderam por praticamente a metade (50%).

Por região, o estudo identificou uma alta de 1,5% na América Latina, puxada principalmente pelo consumo de gasolina e óleo combustível. "Levando-se em consideração apenas o segmento de transporte aéreo, o consumo de querosene de aviação (QAV) tem crescido 100 milhões de litros por ano, ou seja, uma taxa acima de 3% ao ano", adverte o professor da USP. "Com a agravante de que o QAV é consumido mais próximo da atmosfera".

Ainda de acordo com o estudo, só o consumo de combustíveis fósseis de Brasil, China, EUA e Índia, projetado para 2040, será suficiente para esgotar em três anos e meio uma quantidade de petróleo equivalente às reservas da Venezuela. A mesma projeção indica um esgotamento em 12 anos das reservas hoje conhecidas da Arábia Saudita.

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