sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Solução única para problemas diferentes

Ivan Postigo

Conversava com alguns amigos, entre eles o proprietário de uma bela academia de ginástica que nos dizia estar tomando providências para melhorar os resultados.

Ops, melhoria de resultados, então a todos interessa afinal quem não tem sob sua responsabilidade atividades que necessitam de lucro?
Ouvidos atentos, mas o plano não tinha nada que já não tivéssemos observado em outros locais. Mudança de layout, maior supervisão na limpeza e corte de duas funcionárias. Quando questionado o quanto isso contribuiria, a resposta entusiasmada foi mil reais por mês.
Hum, não é de se jogar fora, mas ao preço de cem reais por mês doze alunos a mais não cobririam esse valor, pagando inclusive os impostos? Foi o próximo questionamento.
Sim, mas como conseguir os alunos? Contestação feita.
Nosso amigo, proprietário da academia, nos interrompe e diz que conseguir alunos não é o problema, retê-los sim.
Ok, então a questão deve focada nas razões pelas quais os alunos não permanecem na academia!
Podemos colocar na lista a falta de motivação, dificuldade em fazer parte da turma, compromissos e inabilidade de adequar o horário, falta de sintonia com os professores orientadores e principais motivadores e muitas outras, entre elas uma que me têm chamado a atenção, as pequenas lesões.
Isso tudo afasta os alunos das academias, mas como a questão é tratada?
O aluno deixa a academia e tem um prejuízo que é descuido com a saúde, para o proprietário é perda de receita.
Ambos perdem, contudo como gestor de um negócio é importante tomar uma medida para equacionamento das receitas e despesas. Normalmente reduz-se o quadro funcional como forma de cortar custos, ainda que em muitos casos as horas extras aumentem!
Não seria mais lógico agir no sentido de criar um programa de incentivo, de identificação com a academia, com vídeos de cuidados com a saúde, alimentação, benefícios do treinamento, para motivar e reter os alunos?
Sem dúvidas, mas aprendemos que cortar custos é fundamental, desde que iniciamos nossa carreira como administradores e fazemos disto a Panacéia.
O termo Panacéia é muito utilizado com o significado de "Remédio para todos os males". Redução do quadro funcional, com alto índice de contratação e dispensa como também é conhecido, acaba sendo a Panacéia.
Imagine que a única espécie de árvore que conhecemos é o ipê amarelo. Entramos numa floresta e nos deparamos com um deles, florido, rapidamente o identificamos.
Para ter uma melhor visão da floresta no afastamos, de longe a contemplamos. O que vamos identificar? Vários ipês amarelos!

Quando alguém nos perguntar que árvores tem naquela floresta diremos: Ipês amarelos, afinal é a única que sabemos identificar.
Assim também nos têm sido largamente ensinado. Para melhorar os resultados corte custos, reduza o quadro de pessoal.
Isso corrobora uma antiga afirmação de que quem apenas aprendeu a usar o martelo acha que tudo é prego.
A empresa é um sistema dinâmico, a queda nas vendas, nas receitas, não reduz o trabalho em algumas áreas, portanto a redução de pessoal pode trazer conseqüências mais sérias.
Programas de redução de pessoal têm que ser bem estudados, pois a maioria que vi não se mostrou eficaz, as necessidades foram cobertas com horas extras, muito mais caras e com resultados ruins, sem que outras ações tenham sido implementadas. Pouco tempo depois a recomposição do quadro mostrou necessária, com custos maiores.
Quanto maior for a sua empresa, maiores serão a exigências quanto ao entendimento da dinâmica sistêmica, de forma que soluções mais criativas serão necessárias.
Conversava há algumas semanas com um empresário que num segmento de seus negócios tem apenas um cliente que demanda mensalmente, em média, 25.000 peças do produto. As entregas dificilmente são feitas integralmente, parte dos pedidos é cancelada, mas o cliente apesar do desconforto continua comprado.

Esse empresário sabe que ter apenas um cliente nesse segmento é muito arriscado, precisa de pelo menos mais um, mas como está não poderá supri-lo.
Como os pedidos não têm sido atendidos trocam-se funcionários e supervisão e de acordo com a oscilação da carteira cortam-se custos, com a redução do quadro. Prego que aparece merece martelada.
Uma pequena terceirização de alguns trabalhos, no último mês, já permitiu à empresa um melhor desempenho e atendimento dos pedidos programados, além de evitar cancelamentos.
Com a solução única para problemas diversos muitas empresas não decolam, continuam patinando por falta de entendimento sistêmico e identificação de soluções.


Ivan Postigo
Economista , Bacharel em contabilidade , pós-graduado em controladoria pela USP
Postigo Consultoria de Gestão Empresarial
Fones (11) 4526 1197 / ( 11 ) 9645 4652

ipostigo@terra.com.br

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