Gazeta Mercantil/Caderno C / Clovis Corrêa da Costa
18/07/2008
O entendimento de como funciona a ordem global, ou seja, quais países estão ganhando poder e posição competitiva e quais estão perdendo, é um assunto importante demais para ser deixado para especialistas. Empresas globais (ou que têm concorrentes globais) precisam entender o funcionamento dos grandes mercados do mundo, e avaliar as perspectivas de crescimento em cada um deles. Esta tarefa é usualmente delegada a especialistas, e tendem a se concentrar no curto prazo (geralmente no ano corrente e o próximo), o que muitas vezes esconde movimentos importantes, que determinam a competitividade das economias e das empresas. Vejamos como têm mudado as percepções sobre a economia internacional. Na década de 1970 o Japão era visto por muitos como a nova potência econômica, criadora de novos paradigmas e até capaz de desafiar a supremacia americana. Em seguida veio o sucesso dos tigres asiáticos, com fórmulas semelhantes de crescimento. Na década seguinte mudou completamente a visão de onde está o sucesso. Nos anos seguintes, nova reviravolta: vários especialistas começam a defender que países subdesenvolvidos poderiam vir a ter papel relevante na economia globalizada. Falava-se que as grandes transformações econômicas ocorreriam em países como a Índia, Indonésia, Paquistão, China e Brasil. Nesta linha, o banco de investimentos Goldman Sachs elegeu Brasil, Rússia, Índia e China como os países emergentes mais promissores. No mês passado surgiu nos EUA um livro de um acadêmico indiano que tem ligações com o pensamento republicano ("The Second World", de Parag Khanna, Random House). Ele divide o mundo em três impérios (EUA, China e União Européia), e coloca os EUA com algumas desvantagens em relação aos outros dois, na disputa pela predominância econômica e política no cenário global. A tese dele é que a China e a Europa estão atraindo para suas respectivas áreas de influência os antigos satélites soviéticos, e os EUA assistem a tudo sem fazer muito, paralisados pelas dificuldades no Afeganistão e no Iraque. De fato, em um número crescente de indústrias, globalizar não significa apenas estar nos EUA e na Europa, e sim ser competitivo na China ou na Ásia Central (só para citar lugares onde poucas empresas brasileiras se aventuram). Afinal, 70% do crescimento da economia mundial acontece em países emergentes. Um exemplo interessante de estratégia baseada no entendimento de mudanças na economia internacional foi desenvolvido na década de 1970 por Prahalad (professor de estratégia na Universidade de Michigan), para uma grande empresa de commodities. Este estudo previa mudanças nos hábitos alimentares chineses a partir da provável prosperidade daquele país, com grande crescimento da demanda por proteínas. Esta teria de ser atendida por importações, já que a China não tem terras, água e sol suficientes para tal. Somente os EUA e o Brasil teriam capacidade para satisfazer esta demanda, mas se previam obstáculos: chineses não aceitariam depender de grãos e carnes produzidos por norte-americanos, por motivos políticos, e o Brasil teria que desenvolver sua infra-estrutura de transportes. Estas previsões estão se realizando agora. Explicam a prosperidade atual do agronegócio brasileiro, e fazem pensar quanto mais poderíamos estar nos beneficiando, se tivéssemos investido adequadamente em infra-estrutura.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
O papel do cenário global no planejamento
Publicado por Agência de Notícias às 18.7.08
Marcadores: Economia, Governança
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