segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Aquecimento global pode dar prejuízo de até R$ 14 bilhões à agricultura brasileira

Estudo da Embrapa e da Unicamp levantou efeitos das mudanças climáticas para o cultivo.Conseqüências atingem em cheio o Nordeste e o plantio de soja.
G1/ Marília Juste e Reinaldo José Lopes
11/08/2008
Se nada for feito para conter o aquecimento global, a produção de alimentos no Brasil pode tomar um prejuízo de R$ 7,4 bilhões já em 2020. A situação fica ainda pior cinqüenta anos depois: em 2070, as perdas devem quase dobrar e atingir os R$ 14 bilhões. O alerta foi feito por um estudo realizado em parceria entre a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) divulgado nesta segunda-feira (11). A cultura mais afetada será a soja, que pode perder até 40% na produção, o que renderia um prejuízo de R$ 7,6 bilhões até 2070. O cultivo de café deve mudar de endereço, deixando o Sudeste (o que deve gerar perdas de até 90% para os produtores de São Paulo e Minas Gerais) para ter sucesso no Sul. Entre as regiões brasileiras, o impacto maior se concentra no Nordeste, que verá uma forte redução na área das plantações de arroz, milho, feijão, algodão e girassol -- só nesses estados, 20 milhões de pessoas serão atingidas. Mas se as notícias são ruins para a produção de alimentos, o aquecimento global não parece ter um efeito negativo sobre a cana-de-açúcar. “Apesar das mudanças climáticas, o programa do etanol parece estar garantido”, explicou ao G1 o co-autor do estudo, Eduardo Delgado Assad, da Embrapa. “O biodiesel, no entanto, vai enfrentar problemas, porque a soja é atingida em cheio”, diz ele. O trabalho foi realizado unindo os dados do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas) sobre o aquecimento global, divulgados no início de 2007, com o Zoneamento Agrícola de Riscos Climáticos, do Ministério da Agricultura. A equipe analisou os nove cultivos mais representativos da produção nacional: algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, feijão, girassol, mandioca, milho e soja. E não levou em conta os estados da Amazônia, porque eles não fazem parte do zoneamento. Durante o levantamento, os cientistas conseguiram analisar as variações de temperatura em áreas de cerca de apenas 40 quilômetros. “Estamos falando sobre os riscos do aquecimento global para a agricultura faz tempo. A diferença é que agora somos capazes de dar o endereço e o telefone do agricultor que será afetado”, afirma Assad.

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